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Florbela Espanca na voz de Miguel Falabella

Florbela Espanca na voz de Miguel Falabella




Amar!
Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: Aqui... além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente...
Amar! Amar! E não amar ninguém!

Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!

Há uma Primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!

E se um dia hei de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar...

Florbela Espanca, in "Charneca em Flor"

Se Tu Viesses Ver-me...
Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços...

Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca... o eco dos teus passos...
O teu riso de fonte... os teus abraços...
Os teus beijos... a tua mão na minha...

Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri

E é como um cravo ao sol a minha boca...
Quando os olhos se me cerram de desejo...
E os meus braços se estendem para ti...

Florbela Espanca, in "Charneca em Flor

O Nosso Mundo
Eu bebo a Vida, a Vida, a longos tragos
Como um divino vinho de Falerno!
Poisando em ti o meu amor eterno
Como poisam as folhas sobre os lagos...

Os meus sonhos agora são mais vagos...
O teu olhar em mim, hoje, é mais terno...
E a Vida já não é o rubro inferno
Todo fantasmas tristes e pressagos!

A vida, meu Amor, quer vivê-la!
Na mesma taça erguida em tuas mãos,
Bocas unidas hemos de bebê-la!

Que importa o mundo e as ilusões defuntas?...
Que importa o mundo e seus orgulhos vãos?...
O mundo, Amor?... As nossas bocas juntas!...

Florbela Espanca, in "Livro de Sóror Saudade"

Interrogação
A Guido Batelli 

Neste tormento inútil, neste empenho 
De tornar em silêncio o que em mim canta, 
Sobem-me roucos brados à garganta 
Num clamor de loucura que contenho. 

Ó alma de charneca sacrossanta, 
Irmã da alma rútila que eu tenho, 
Dize pra onde vou, donde é que venho 
Nesta dor que me exalta e me alevanta! 

Visões de mundos novos, de infinitos, 
Cadências de soluços e de gritos, 
Fogueira a esbrasear que me consome! 

Dize que mão é esta que me arrasta? 
Nódoa de sangue que palpita e alastra... 
Dize de que é que eu tenho sede e fome?! 

Florbela Espanca, in "Charneca em Flor" 
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ondese

"O que é alimento para uns, é veneno amargo para outros." Lucrécio
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